domingo, mayo 19, 2013
O sonho do canibal
por Guillermo Vega Zaragoza
Não está brincando aquele que confessa: 
“Te comeria em beijos”.
Se pudesse, a engoliria toda
como a jiboia do pequeno príncipe,
como a terra ávida
absorve a chuva no deserto.
O beijo é uma mordida extraviada,
uma tímida devoração
numa dança de línguas excitadas.
O beijo é uma cópula perversa, 
hermafrodita,
onde ambos se penetram
e se emprenham de filhos minúsculos
que nascem e morrem e ressuscitam
cada vez que os lábios se aproximam. 
O beijo é o sonho do canibal,
Desejo proibido da carne próxima
alento vital desesperado,
agonia infinita do instante. 
Para cumprir com o que cometeu,
os que se beijam
devem se consumir mutuamente,
a prazo, mas sem pausa,
com insaciável paixão antropófaga,
deglutir-se com paciente ternura
até o último osso,
e separar-se como se já não fossem um
para voltarem a se devorar
no próximo banquete.
O fim do beijo é impossível.
Cada beijo é único,
interminável.
(Publicado en Tehno tanta palavra meiga. Alguns poetas mexicanos, organizou Fernando Reyes y traduziu Leo Gonçalves, Libera/Anome Livros, Brasil, 2013, 77 pp.)
    
	































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